Nascido em 1936, e graduado em Arquitetura pela Universidade Mackenzie, em São Paulo. Ainda muito jovem, apenas egresso da faculdade, precisou assumir, juntamente com seus irmãos, a empresa de móveis do pai, a Lafer. Em razão disso, sua paixão pela arquitetura não pôde ser exercida na totalidade. Alguns exemplos de seu trabalho como arquiteto incluem casas projetadas para amigos pessoais, desenhos de mobiliário urbano e de componentes arquitetônicos.
O trabalho de Percival Lafer como desenhista industrial marcou o segmento moveleiro no Brasil de forma indelével. Desde seu primeiro projeto, seu trabalho foi sempre marcado pela ousadia e pela originalidade. Para ele, cada projeto deveria refletir o estado da arte aplicado a idéias inovadoras. Assim, através de seu modo de interpretar um design contemporâneo, surgiram projetos originais, muitos deles protegidos por patentes. Essa prática o levou a criar a sigla MP, (de Móveis Patenteados), que passou a integrar o logotipo da empresa. Surgia a marca MP Lafer.
SOBRE

Seu objetivo sempre foi o de criar produtos acessíveis não apenas a uma elite de consumidores que sabiam discernir entre um bom e um mau design. Queria conquistar o mercado de massa, até então explorado por produtos de baixa qualidade. Entendeu que para atingir este objetivo, de fazer chegar o bom design a este vasto segmento de mercado, tinha que usar os canais de distribuição que tinham acesso a ele: as grandes lojas de departamentos e o comércio de pequenas lojas de bairro. A fórmula, pioneira na época, demonstrou que o grande público tinha sim interesse em ter um produto de bom desenho, apenas não existia oferta, porque os móveis de design existentes à época eram artesanais, caros, e vendidos em canais elitistas. Foi assim forjado o caminho de uma industria que revolucionou o mercado de móveis no Brasil.
Tudo começou a partir de 1961, quando do lançamento da poltrona MP-1. De perfil esbelto, seu estofamento eliminou radicalmente as tradicionais molas de aço usadas até então, pois utilizava apenas uma lâmina de espuma de poliuretano apoiada em cintas de borracha. A estrutura aparente que suportava os apoios de braço e os pés, era também esbelta porém robusta, pois utilizava perfis metálicos associados à madeira, uma inspiração trazida das aulas de concreto armado da faculdade, a combinação de dois materiais dando origem a um terceiro. Uma poltrona inovadora em sua forma, materiais e acabamento, que fez enorme sucesso junto a uma parcela do público até então distante do consumo de um mobiliário mais sofisticado. Um grande tabu, de que o povo não entendia de design, foi quebrado. Estava aberto o caminho para que uma série de novos produtos fossem criados, para povoar o imaginário do público. O brasileiro, numa primeira fase, e o do mercado internacional, logo em seguida.
Um outro exemplo marcante de mudança foi o sofá-cama MP-7, lançado em 1965. Usando o mesmo conceito de leveza e praticidade da poltrona MP-1, desta vez revolucionando o mercado de sofás-camas. Em contrapartida aos pesados produtos disponíveis à época, oferecia, além da leveza e extremo conforto, a conversão de sofá em cama e vice-versa a um simples toque num pedal. Foi o primeiro de uma longa série de móveis articulados, que pela suas inusitadas características, garantiram à Lafer uma identidade própria. O MP-7 foi o primeiro produto a ter o suporte de uma campanha publicitária, que projetou a imagem da Lafer a nível nacional.
Mas criatividade e dinamismo nem sempre são sinônimos de sucesso no mercado. Antecipando-se em décadas à tendência atual de busca de soluções para economizar espaço, lançou a Mini Sala, um pequeno móvel, um aparador, que se transformava, como num passe de mágica, em uma mesa e 6 cadeiras. Mesmo apoiado por campanha publicitária, o produto simplesmente não “pegou”, o mercado não estava pronto para entender aquele conceito. As matérias primas, agora “encalhadas”, foram integralmente utilizadas num novo projeto, a poltrona Mirage, esta sim, com grande sucesso. Esta metamorfose no uso daqueles mesmos materiais em um projeto de características tão diferentes mostrava que a imaginação, em seu estado mais puro, era a mola propulsora de tantos projetos inovadores.
A inquietude de Percival, se mistura com sua determinação em priorizar as premissas de estética e conforto, sempre com atenção plena aos processos industriais. O que faz com que um novo projeto possa levar anos desde seu primeiro esboço, até sua conclusão. Não importa o tempo, importa atingir o objetivo. Um exemplo marcante foi o mecanismo das poltronas reclináveis atualmente em produção. Muitos anos de gestação, mas hoje um sucesso reconhecido mundialmente.
Diversidade, amplitude e foco, são as palavras que talvez melhor definam a singularidade de Percival Lafer.